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RESUMO

 

As questões que envolvem a aprendizagem na atualidade, seus problemas e a imensa dificuldade de relacionamento vividas por professores e alunos nas salas de aula brasileiras, são um obstáculo por demais sério para a educação de nossos jovens e crianças no país. Neste sentido, a psicomotricidade pode ser um diferencial nestas situações, mediando os conflitos, solucionando dificuldades, sendo mais uma ferramenta poderosa nas práticas docentes, neste sentido é que este trabalho de pesquisa bibliográfica surge, intencionando fornecer propostas capazes de suprir as deficiências neste relacionamento, tão essencial a educação, mas que tem se mostrado cada vez mais distante do ideal. A psicomotricidade, sendo uma ciência voltada as questões motoras do sujeito, aborda também as questões que envolvem os sentidos e sentimentos de cada um, e é neste sentido que este trabalho buscou o foco desejado, a mediação dos sentidos e sentimentos de alunos e professores, libertando estes primeiros das dificuldades enfrentadas em seu dia a dia.

Palavras Chave: Dificuldades, Afetividade, psicomotricidade, aprendizagem

 

 

INTRODUÇÃO

 

Frequentemente escutamos notícias afirmando um fato que já faz parte da vida escolar e docente no país, as dificuldades de aprendizagem. É inegável sim, no entanto, pouco se tem feito para identificar e solucionar tal problema que tanto mal tem feito as classes escolares. Entender este processo no entanto, não é coisa simples. Os problemas advindos da falta de afetividade, podem ser dos mais diversificados e de difícil diagnostico impreciso. Estando neste fato a maior dificuldade para que deixe de existir. E, é neste sentido que este trabalho quer trazer reflexões sobre uma vasta margem de pesquisa bibliográfica e na internet, onde inúmeros artigos são colocados à disposição. Mas, na pratica educativa ainda temos visto que nada de prático é feito, nem as teorias existentes são colocadas em prática. Buscando neste campo vasto de publicações sobre este é que surge a ideia de pesquisarmos a afetividade no âmbito das classes escolares. Busca matérias, publicações em livros, notícias e reportagens, que nos forneçam a base ideal e que nos leve a tirarmos conclusões especificas a respeito da afetividade na vida de crianças em fase escolar. Sua carência e o que dissemina este problema de aprendizagem tão sério, mas que é de difícil percepção. Vindo junto também as questões psicomotoras como um agravante da carência de afetividade, onde crianças e adolescentes acabam por se retraírem, não reconhecendo-se como ser ativo, capaz de exercer atividades e saberes dos mais variados. Portanto, faremos um apanhado vasto de títulos e materiais já publicados, para que a efetividade deste trabalho seja realmente alcançada e junto a ela possa fornecer uma matéria capaz de auxilio eficaz aos nossos docente e crianças, que são os que mais sofrem com estas questões em salas de aula.

 

1. A AFETIVIDADE E A PSICOMOTRICIDADE NO EQUILÍBRIO DA APRENDIZAGEM

 

 

As dificuldades emocionais frequentemente inviabilizam a efetividade da aprendizagem. Colocando alunos e professores, mesmo que ocupando o mesmo espaço, em situações extremamente opostas, quase sempre em atrito. Mesmo crianças pequenas, mas que enfrentem dificuldades de relacionamento familiares, sofrerão as consequências negativas de distúrbios familiares. Estes processos acabam por se interligarem ao processo de encimo e aprendizagem, tornando-o difícil ou impossibilitando-o. É neste contexto que a psicomotricidade pode auxiliar e solucionar estas dificuldades, pois trabalha com as emoções do sujeito, aflorando-a e trazendo práticas capazes de revitalizar o que se perdeu, capacitando estes indivíduos emocionalmente. Como ciência que estuda e aprimora a afetividade do ser, a psicomotricidade humaniza, constrói e aperfeiçoa as emoções, equilibrando todo o ser. Para as questões da aprendizagem, onde as influências negativas de emoções em desequilíbrio e desarmônicas pesam negativamente nas questões educativas.

Uma escola que tenha em sua base curricular as emoções, a aquisição cognitiva, emocional e social de seus educandos, fornecerá muito além dos conteúdos, fomentará uma educação afetiva capaz de romper com os elos que aprisionam o indivíduo, possibilitando as aquisições cognitivas.

As questões que envolvem a aprendizagem e as suas dificuldades, em sua maioria, são complexas e causam muitos transtornos para alunos e professores. Nem sempre a solução e acompanhada de resultados esperados. Em muitos destes casos os verdadeiros problemas geradores estão situados em suas famílias acabam por impor um maior problema, a desestruturação familiar.

 

                    1 – 1. Importância do Afeto para a Aprendizagem 

 

Nas condições sociais em que a escola está inserida, principalmente as de organização pública, mas não somente, pois muitas crianças provenientes de famílias de classe média alta, também sofrem com desajustes familiares e sociais. Mas, para o caso das escolas públicas, a situação é quase uma constante, devido à localização dos seus estabelecimentos, normalmente em comunidades pobres, ou de baixa renda.

Com o baixo nível sociocultural de seus pais, além de desajustes sociais dos mais variados, onde estas crianças são obrigadas a conviverem com a violência e suas mais variadas consequências. Locais onde normalmente já aprenderão a crer e ver as ações criminosas como legais, desejáveis como forma de ganharem suas vidas.

É neste contexto, que crianças carentes são inseridas nas escolas. São confrontadas a abandonarem seus hábitos e formas de vida, no entanto de forma muito abrupta, em sua grande maioria, acabam por terem sua vida escolar comprometidas e em muitos casos quase de forma definitiva. O que acabamos por encontrar nas escolas públicas de nosso país, são crianças com baixa afetividade, com famílias de pais separados, ou com envolvimento com a criminalidade, além de famílias que levam seus filhos e filhas para a escola achando que está tem a obrigação de educar o comportamento de seus filhos, fato este que é de incumbência única e exclusiva da família.

Na educação infantil, as questões psicomotoras e afetivas são trabalhadas de forma muito eficiente. As “tias” ali ensinam a linguagem dos corpos, dos sentimentos e da aceitação da produção individual de cada criança, fato este que estimula estas crianças a não terem a inibição por errarem, antes são incentivadas a continuarem, fato este por não terem a necessidade e nem mesmo a exigência dos conteúdos. Este fato, a não exigência dos conteúdos, por si só já ameniza a estadia da criança dentro da escola. As professoras da educação infantil ensinam o que deveria ter continuidade na etapa onde serão inseridos os conteúdos. Pois, cada ser humano aprende mais com seus erros que com seus acertos. Logo temos que, a produção do “erro” deve ser considerada como parte integrante do processo da aquisição da aprendizagem formal. Devendo nas fases subsequentes a educação infantil, a questão do erro ser trabalhada de forma a mostrar concretamente que a criança deve tirar o máximo de proveito, fazendo na prática suas próprias experiências e praticando o que se aprende em aula.

Este fato da produção das crianças acaba por colocar, tantos os alunos, quantos os professores em campo minado, onde as crianças serão as mais prejudicadas no final deste processo. Em uma pesquisa de 2002 da ADAPE (Avaliação de Dificuldade de Aprendizagem) mostra que a cada grupo de 20 crianças apenas 2 não possuem dificuldades de aprendizagem.

Está é uma situação crítica, pois está transição, onde a criança sai de um ambiente afetivo, onde as exigências são mínimas e suas produções amplamente elogiadas, para um outro local onde, em sua maioria, são exigidas situações a qual ainda não está adaptada, com situações as quais ainda não está familiarizada, ler e escrever. Onde o afeto das “tias” praticamente já não existe mais, como qualquer ser vivo, ela reagirá de diversas formas, algumas se adaptaram as exigências, outras começaram a sofrer com as distorções de ensino aprendizagem.

Estas crianças já vão para as escolas, como afirmação feita antes, com sérios problemas afetivos, provenientes de comunidades e famílias pobres, com dificuldades comportamentais e afetivas sérias. Que já se apresenta à escola como alguém em situação de «risco de fracassar», ou é daqueles que já vivenciaram experiências de fracasso (MACHADO, C.; ALMEIDA, L.; GONÇALVES, M. e RAMALHO, V. (Org.) (Outubro de 2006. XI Conferência Internacional Avaliação Psicológica: Formas e contextos).

Tal afirmação nos leva a crer que as escolas públicas são as mais afetadas por esta situação de risco educacional, juntando ambos os processos e dificuldades que levam ao fracasso escolar, as questões afetivas e familiares são as que mais se acentuaram nos últimos tempos. Onde as famílias cada vez mais estão desestabilizadas e em muitos casos seus filhos acabam por crescerem longe de um de seus pais. São famílias desfeitas por problemas conjugais, violência e a imaturidade de ambos os cônjuges, acarretando um ciclo de grandes transtornos que afetam as crianças destes relacionamentos.

Em razão dos muitos estudos realizados sobre o tema, Sisto (2001) considera que o fracasso escolar e/ou o baixo desempenho são os indicadores mais comuns das dificuldades de aprendizagem. No entanto, alerta para o fato de que é importante que se faça seu diagnóstico diferencial, visto que, por um lado, uma criança que possui um bom desempenho escolar, mesmo tendo algum tipo de dificuldade, poderá passar despercebida pela escola. Por outro lado, o aluno que não estuda, por falta de interesse ou por algum fator emocional, pode ser classificado como portador de dificuldades de aprendizagem.

 

Ao analisarmos o fracasso escolar somente na ótica dos transtornos que afetam a aprendizagem, podemos incorrer no erro de englobarmos todos os fatos que dificultam a aprendizagem como sendo transtornos ou síndromes, patologizando dificuldades simples, ou até mesmo dificuldades provenientes de outras áreas como a saúde. O que não nos permite dimensionar com clareza o que realmente se passa no universo da aprendizagem destes alunos, onde em alguns casos a falta de interesse, o descaso familiar, a violência dentre tantos outros fatores podem afetar a aprendizagem escolar;

Há controvérsias entre os estudiosos quanto à definição de dificuldade de aprendizagem (DA). Mas é importante destacar que as DA se diferenciam de distúrbios de aprendizagem, porque é comum haver uma sobreposição de diagnósticos entre DA e retardo mental, transtornos profundos, transtornos de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno de comunicação e outros (Sánchez, 2004).

Cabe ressaltar, que um distúrbio ou uma síndrome, podem estar associados a problemas de aprendizagens dos mais variados e diversos. No entanto, uma dificuldade de aprendizagem (DA) possui características que nem sempre se aproxima de uma síndrome ou de um determinado distúrbio, pois não tem sua origem em problemas patológicos, mas familiares ou sociais dos mais variados. Na maior parte dos casos estão ligados aos problemas familiares. É a separação de seus pais, brigas conjugais ou até mesmo o desprezo de um dos genitores, o que deixa a criança/adolescente exposto a uma dificuldade de entendimento da rejeição destes. Nestes casos apresentará um quadro de desinteresse, raiva, agressividade, baixa estima, dentre outras situações nas quais acabará por atrapalhar sua vida estudantil.

Estas situações que acometem nossas crianças e adolescentes na atualidade e de forma muito abrangente, acaba por proporcionar situações tão complexas, quanto difíceis de se solucionar. Acarretando-se em constantes distorções na afetividade e escolaridade de alunos, “As emoções e os sentimentos fazem parte da vida e interferem em todo o ser, até mesmo no conhecimento e na aprendizagem” MORAES E RUBIO.

Portanto, as emoções se interligam diretamente ao ensino aprendizagem, a afetividade é uma ótima impulsionadora, senão a mola principal de impulso de todo o processo cognitivo. Se a criança desfruta de um processo afetivo bem construído, com fortes laços, proporcionando-lhe um ambiente de credibilidade e segurança, ela com certeza terá maiores condições de alcançar bom rendimento, tendo reais chances de ter um bom desenvolvimento escolar.

A aprendizagem sempre esteve inserida em um contexto de identidade direta com o professor. Os professores que transcendem as salas de aula, tornam-se exemplos e assim acabam por moldar algo muito além de sua esfera de atuação, o caráter, a personalidade. Sempre temos um exemplo baseado em uma professora lá no início da vida escolar. Estes exemplos podem ser aqueles que nortearam nossas ações, ou que nos manterá sempre afastados do que aprendemos. É pois, necessário que exista na formação de nossos professores a base na afetividade, e é a psicomotricidade quem nos mostra as ações afetivas como base de sua ciência e práticas.

(...) a criança é o seu corpo, pois é através dele que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza toda a sua personalidade. A imagem de si mesmo se constrói igual à forma que as demais estruturas mentais (pela associação dos elementos cada vez mais coordenados e complexos). AJURIAGUERRA (1972)

 Temos então, que cada criança constrói suas vivências, experiências e todas as suas bases de desenvolvimento através de seu próprio corpo. Neste caso poderemos afirmar que um corpo que não seja cuidado, amado e a ele não seja dispensado o devido trato afetivo, não terá condições reais de se articular de forma conveniente e adequadamente, para efetivar a aprendizagem que receba no dia a dia. Obviamente a sua capacidade de apreensão será muito reduzida, condicionando-o a situações de muitas dificuldades em sua aprendizagem, assim como o foi em décadas passadas com as discussões em torno da alimentação escolar. Até o momento em que as pesquisas trouxeram a luz seus dados concretos, afirmando que uma criança com deficiências alimentares, por menores que sejam, acabam por não terem as condições necessárias para um bom aprendizado, vindo logo em seguida a constatação de que uma boa alimentação influencia diretamente sobre a efetividade de uma boa aprendizagem.

Uma criança com dificuldades e carências afetivas acaba por não ter a atenção devida em suas salas de aula. Ao não terem a atenção, acabam por perderem com muita frequência o foco, se distanciando dos grupos que conseguem ter maior aproveitamento e manterem-se focados no que se ensina. Vejamos como a questão de se ter atenção é tratada por teóricos de renome nas questões educacionais: A atenção, para Piaget;

"De acordo com o psicólogo, prestamos atenção porque entendemos, ou seja, porque o que está sendo apresentado tem significado e representa uma novidade. Se há um desafio e se for possível estabelecer uma relação entre esse elemento novo e o que já se sabe, a atenção é despertada." 

Aqui podemos notar então, uma situação que pode se tornar um complicador, pois, se a criança não entender o que se ensina, logo não terá sua atenção e foco ali, não criando os significados capazes de leva-los a ressignificações do que se foi aprendido. Ao contrário aquele professor que for capaz de ensinar, levando seus alunos a partirem de seus exemplos, suas vivências, capacitando-os a novas descobertas, e estas descobertas influenciando novas práticas, estabelecendo assim um aprendizado significante e atraente, pois transcenderá as salas de aulas, passará a fazer parte de suas vidas, de seu cotidiano. Nestas práticas, mesmo que seja capaz de efetivar o aprendizado através de uma relação afetiva, ela terá de ser significativa para o aprendente, para que desta forma seja levado a desafiar-se constantemente e desta forma impelido a novas buscas. A atenção, para Ausubel:

"A mente é seletiva. Segundo Ausubel, só reconhecemos nos fenômenos que acontecem a nossa volta aquilo que o nosso conhecimento prévio nos permite perceber. Não hesitamos, por exemplo, em interromper uma atividade quando sentimos um cheiro de fumaça no ambiente. Conhecer padrões é fundamental para se dedicar, agir e aprender sobre o que importa."

Como vimos nas opiniões de Piaget, precisamos entender e ter no que se aprende o atrativo necessário. Já para Ausubel, a questão envolve a mente, que conserva o que é de importância ao indivíduo. Estes fatos nos mostram que as questões que envolvem a aprendizagem, transcendem aos fatos envolvidos somente nas salas de aula, pois o preparo docente, onde saiba que terá de ter uma base afetiva, embasada em teorias que contemplem o que viverá em cada lugar onde lecione, fará que seja necessário que busque embasamento em teorias das mais variadas, para que assim cumpra os objetivos educacionais aos quais esperam seus educandos.

Já em Vygotsky temos o meio cultural influenciando a mente e o que por ela é assimilado. “A atenção, para Vygotsky”: "No decorrer do processo de desenvolvimento, a atenção passa de automática para dirigida, sendo orientada de forma intencional. Aqui vemos um fato novo e de muita importância, a mente para Vygotsky pode ser orientada. Em outro momento para Vygotsky a mente sofre influência dos símbolos de um meio cultural, que acaba por orientá-la. Portanto, ao fazer estas afirmações, ele nos mostra que outros meios, não somente a escola, acaba por influenciar o aprendizado, acima de tudo, direciona-o, organiza e o faz bem sucedido. “Atenção e memória se desenvolvem de modo interdependente, num processo de progressiva intelectualização”. Já para estas últimas afirmações, ele nos mostra o quanto é importante a orientação, a afetividade, os exemplos familiares para uma criança em formação de sua memória e personalidade. Estes fatos, por si só já nos mostram a importância da união da escola com as famílias, sem os quais está criança ficará sem elos de ligação para a devida formação de seu aprendizado e valores sociais, aos quais precisará recorrer por toda a sua vida. 

O ambiente educacional deve ser um local onde o erro, não seja tolerado, mas que ao errar, estas crianças sejam desafiadas a pensarem em outras possibilidades, possibilidades as quais o professor sabe, pois deve ter o preparo suficiente para lidar com o “erro”, sem no entanto expor a criança a situações de exposição aos outros educandos, onde as “gozações” poderão tomar rumos impróprios, diminuindo a estima destes frentes aos que tais brincadeiras façam.

A implicação na educação da falta de atenção não é sinônimo de indisciplina ou de desinteresse por parte das crianças.  Ela pode ser decorrente de um meio desestimulante ou de situações inadequadas à aprendizagem. Para evitar isso, o professor deve focar a interação entre ele, o saber e o aluno, refletindo sobre as atividades propostas e modificando-as se necessário. Demonstrar disciplina, mas acima de tudo um afeto bem cíclico, que comece com uma construção do comportamento em sala de aula, nunca demonstrando preferências, ou elogiando demais o aluno que consegue cumprir com os objetivos estipulados. “As emoções e os sentimentos fazem parte da vida e interferem em todo o ser, até mesmo no conhecimento e na aprendizagem”. (MORAES E RUBIO 2012).

 

2 - COMO TRABALHAR O AFETO NAS SÉRIES INICIAIS

 

Esta não é uma questão de fácil solução. A escola pública é um palco repleto de atores, com textos dos mais variados. São interesses dos mais diversos e em alguns casos acabam por gerarem conflitos. Como já foi dito no capítulo anterior, a educação infantil fornece, sobre a questão do afeto, ótimos exemplos. Lá a criança não é cobrada por seus erros, antes é incentivada a prosseguir, somente sendo guiada para os objetivos que precisam ser cumpridos.

Por si só a questão que envolve o “erro” já traz junto de si uma problemática muito diversa. São fatores extraclasse, ou mesmo fora dos muros das escolas que acabam por desaguarem todos nas salas de aula, dificultando e muito a atuação docente e o aprendizado de uma forma geral. São crianças que não aprenderam o afeto, que só veem situações violentas, que sofrem violência, que não são respeitadas em sua infância, não podendo viver a fase formadora de suas vidas de forma plena e adequada, não tendo como ou com quem aprender a ter uma boa estima, amor próprio, condições estas que nesta fase da vida humana são essenciais na formação de um caráter elevado, sólido e satisfatório dentro da sociedade complexa em que vivemos.

A questão de como trabalhar o afeto nas series iniciais, não é uma questão fácil, ou até mesmo que vá trazer, a começar que ela na verdade é uma outorga do aprendente a quem ele confie, estime e recebe a dosagem certa de estímulos, correção e repreensão de forma adequada.

A relação entre professor e aluno é o fio condutor, o suporte afetivo de um processo de aprendizagem significativa, pois não aprendemos de qualquer um, mas apenas daquele a quem confiamos e outorgamos o direito de ensinar.

Na atualidade, com a ampla disseminação da informação, com vários meios de informação, onde o mundo tornasse uma aldeia global, a informação corre de forma imediata. Uma criança já é capaz de saber e ter a noção de amplitude de seu saber já bem desenvolvida mesmo na mais tenra infância. Podemos citar como exemplos a questão da geração digital, que começa a ter o convívio com computadores, smartphones dentre tantos outros meios de informação e entretenimento já em seus primeiros anos de vida. Logicamente, está criança não aceitara os ensinamentos, nem mesmo este lhe será atraente sem o uso amplo destes meios tecnológicos e as variadas formas de mídias hoje disponíveis. Então, o professor precisará transpor uma grande barreira, por não ser um dos “filhos digitais”, não aceitar o uso destes meios digitais e nem mesmo fazer uso deles em seu método de ensino.

É conveniente ressaltar que em tempos passados, mais precisamente da década de 1970 para trás, estes meios tecnológicos não existiam, a educação ainda tinha muita influência dos modelos educacionais antigos, onde a educação era centralizada no professor, era ele quem sabia e transmitia este conhecimento aos que se mostrassem aptos ao reterem o lhes era transmitido, não podendo questionar, interagir, mas somente reter o que era passado.

Era um modelo sem afeto, apenas transmissor. Não cabia ao alunado o questionar, sendo os que assim o queriam fazer, imediatamente advertidos ou expulsos, um modelo meramente transmissor de conteúdo.

 Então como trabalhar o afeto na educação? Bom, em primeiro lugar, é saber que uma criança hoje já sabe inúmeras coisas, inclusive tendo uma noção, mesmo que ainda deturpada, de muitos direitos, algo que em gerações passadas era simplesmente inimaginável. É um ser em muitos casos já questionadora, portanto, não adianta ao professor meramente transmitir um saber, é preciso mostrar uma prática aplicável, um uso logico para o que está se aprendendo, sem o qual está criança simplesmente não será atraída, não terá sua atenção voltada, facilitada para o que se pretende ensinar.

Sendo estas questões que envolvem o aprender, uma das primeiras questões de atrito professor/aluno. Cabe então ao profissional da educação, qualificado por uma formação adequada, voltada para as questões que envolvem a sala de aula da atualidade, seus conflitos e carências, ser capaz de dirimir as situações geradoras destes conflitos, soluciona-las e ensinar adequadamente, que é sua missão precípua.

Estas questões de ensino/aprendizagem, só se fecham quando o professor vê em seus alunos a capacidade, o potencial, e acima de tudo sabe lidar com as dificuldades e os problemas de aprendizagem que envolva cada um de seus alunos, procurando junto com a escola, pais, envolvendo ambas as partes cada um com suas respectivas responsabilidades em favor destas crianças que precisam organizar saberes diversos, em uma questão educacional ampla, diversificada, complexa, mas possível de realização. Com afeto verdadeiro, adequado e na medida certa em favor do bem maior que o ser humano deve se apropriar, o saber.

Se o professor souber lidar com as circunstâncias emocionais na sala de aula, principalmente na faixa etária da pré-escola, contribuirá e muito para um bom desenvolvimento das atividades escolares, pois a ausência de uma educação que aborde a emoção na sala de aula traz prejuízos para a ação pedagógica, atingindo não só o professor, mas também o aluno. Almeida (1999, p.14 e 15).

Este saber inicia-se no afeto, fundamenta-se no respeito ao ensinar e deve ser encerrado com o amor, tanto do que ensina, quanto do que aprende. O bom professor será sempre aquele que com amor corrige, direciona, questiona e problematiza as questões do saber, de forma adequada ajuda a soluciona-los, fixando bons pensamentos e sonhos possíveis de futuro em seus alunos.

Estas questões jamais se concretizaram sem o afeto verdadeiro, sincero de um mestre acima de tudo um amigo interessado, capaz de ver além das dificuldades, capacitando, preparando para a vida futura deste ser humano e acima de tudo um cidadão do futuro.

 

3 - RELAÇÕES AFETIVAS DENTRO DA ESCOLA E DA SALA DE AULA

 

O aluno como todo ser humano precisa de afeto para ser valorizado e ao entrar para a escola não deixa os aspectos afetivos que compõem a sua personalidade fora da sala de aula; já o professor é o modelo a ser seguido e tudo que ele transmitir afetuosamente será mais bem assimilado e compreendido.

Afeto não é o mesmo que intimidade, mas apreço ao que se faz e a quem se faz. Uma criança que veja com clareza os objetivos que se exigem dela, que seja convencida de forma amável, com propósitos claros e objetivos definidos será capaz avaliar positivamente os aspectos educacionais e as exigências deste, terá capacidades suficientes de entender que o que se busca lhe é benéfico e faz parte de um processo de adaptações necessárias para coexistir.

Como exemplo deste fato de entendimento e de coexistência, poderemos citar o fato de uma criança de oito (08) anos, que provavelmente possua o transtorno de hiperatividade e déficit de atenção, que nas aulas jamais consegue ficar com sua atenção focada o suficiente nas atividades propostas, no entanto consegue cumprir com êxito todas as atividades, mas incomoda todos os demais, causando muita bagunça e distúrbios, sendo constantemente advertida pelo professor, quando pega um lápis emprestado com o professor, vindo de forma atabalhoada a quebra-lo, fica muito constrangido, e pensa que será punido por sua ação.

Ao ficar frente a frente com o seu professor, e logo advertido de que o que se buscava era sua atenção, não a punição, que o lápis seria reposto sem nada mais ser exigido dele, ele insiste que deveria receber uma punição, com o que seu professor lhe diz que está não é uma situação que a escola faria, menos ainda seu professor. O que este professor busca com seu aluno é a questão da confiança, fato este que se constrói com o afeto dosado em proporções e medidas justas, sem exageros, com “situações e exemplos” claros o bastante que estas crianças, ainda imaturas, compreendam.

O erro em si já faz uma parte muito grande das ações e práticas destas crianças, cabendo ao educador ordenar de forma elaborada, evidenciando onde está o erro, corrigindo de forma muito clara e passo a passo, onde cada criança será capaz de identificar os erros, fornecendo assim os subsídios necessários para sua devida correção. Como diz MORAES e RUBIO “consequências que a falta de afetividade pode acarretar no íntimo do indivíduo e na sua cognição, porque tudo o que se faz na vida é determinado pelas emoções. Esta afetividade não é traduzida como sendo a tolerância ao erro, a indisciplina e o desrespeito, mas a sua correção amorosa e sutil, capaz de convencer o indivíduo para o melhor, capacitando-o as mudanças necessárias.

As mesmas autoras, MORAES e RUBIO afirmam que “as emoções e os sentimentos fazem parte da vida e interferem em todo o ser, até mesmo no conhecimento e na aprendizagem”. Esta afirmação pode ser traduzida de diversas formas, sem no entanto, deixar de nos arremeter as diversas formas de aprendizado. Mesmo o aprendizado existente fora das salas de aula, ou seja as advindas do senso comum, da cultura e da família, precisarão de afeto para se consolidarem com verdadeiras práticas, capazes de produzirem conhecimentos, e elaborarem processos cognitivos efetivos.

 

             3.1 Relações Afetivas Familiares e as Implicações Para a Escola

 

Ao falarmos de afetividade familiar, falamos da base principal de todos nós. Só seremos na sociedade o que realmente aprendemos, ou não, em nossas famílias. É no seio familiar que aprendemos os valores morais, as bases que direcionam as nossas decisões fora deste núcleo organizacional. É o que dele levamos que norteara as decisões em qualquer ambiente social ao qual nos inserirmos.

Na verdade os processos cognitivos verdadeiros já começam ao nascermos, pois no útero de nossas mães, não necessitamos absolutamente de nada, pois tudo o que precisamos o organismo de nossas mães nos supre. Fato este que ao nascermos, somos obrigados a começarmos a aprender. Somos incentivados a sugar o leite materno, que já não nos é mais fornecido sem a real necessidade de sugarmos de seus seios.

Está nova realidade já nos insere dentro de um contexto, onde mesmo que não saibamos, estamos aprendendo, fato este que jamais passará ao longo de nossas vidas, pois o ser humano viverá aprendendo por toda a sua existência, sem que possa, mesmo que não queira, escolher.

Mesmo nesta fase, onde está criança é inteiramente dependente dos adultos, a afetividade atuará como o catalisador necessário para a efetivação do que é necessário aprender.

Já nas fases subsequentes, quando está criança já possuir certa autonomia, e o discernimento capaz de assimilar, se não possuir nenhuma incapacidade orgânica ou mental, os aprendizados aos quais terá acesso, este será efetivo com o auxílio de sua família. A família acaba por se constituir no principal núcleo de aprendizagem nos anos iniciais de qualquer ser humano. Portanto, uma família com bons princípios e valores bem definidos, contribuirá de forma muito eficaz com a aprendizagem de seus filhos, enquanto aquelas que tiverem dificuldades de organização, que não tiverem bom relacionamento, com valores bem estipulados e claros em sua prática cotidiana, terão mais dificuldades para que seus filhos possam se inserirem nos ambientes formais da educação.

É a base que a criança trás do seio de suas famílias, exatamente a que facilitará, ou dificultará a sua fase escolar. Os problemas de aprendizagem, em sua maioria, que não são provenientes de transtornos ou de síndromes, aqueles que advém de distúrbios emocionais, rebeldias, comportamentos não adequados aos espaços sociais, dos quais a escola vem a ser o mais exigente, por suas aptidões formativas e formais, é que acabam por trazerem as dificuldades que em sua maioria acabam em fases posteriores da infância, mas que se persistirem, dificultarão as fases elevadas da sua educação escolar.

É visível, mesmo em escolas do ensino público, que as crianças que são acompanhadas e exigidas por seus pais, apresentam melhores resultados em suas avaliações, são as que conseguem assimilar com maior facilidade, ao contrário daquelas que praticamente são as únicas responsáveis por sua permanência nas instituições de ensino. Estas crianças possuem um comportamento visivelmente diferente das demais, em muitos casos possuem uma agressividade exacerbada, acabando por se envolverem em confusões constantes.

Os alunos podem trazer consigo um conjunto de situações emocionais intrínsecas ou extrínsecas, ou seja, podem trazer para a escola alguns problemas de sua própria constituição emocional (ou personalidade) e, extrinsecamente, podem apresentar as consequências emocionais de suas vivências sociais e familiares (Ballone G.J, Moura). 2008.

Uma criança que esteja inserida em uma família com dificuldades de relacionamento, com uma base sem solidez e distúrbios dos mais variados possíveis, apresentará uma serie de distúrbios comportamentais, que poderão afetar sua escolarização, ou até mesmo inviabilizá-la. Nestes casos não é somente a atuação da escola dissociada dos seus responsáveis, que se mostrará capaz de solucionar estas consequências. Sendo necessário o envolvimento de todos os que que possam transmitir-lhe segurança, afeto, amor e a compreensão capazes de auxílio na superação destes eventos.

O mesmo autor nos diz sobre as questões que envolvem a separação de pais de crianças pequenas, segundo Ballone:

Durante a separação e depois dela, as críticas que os pais fazem um ao outro podem levar a criança a sentir que parte da sua própria identidade também é ruim e sem valor.  Frequentemente, há uma dramática perda de autoestima durante a separação e o divórcio e isso pode levar ao isolamento social, revolta, agressividade, desatenção, enfim, alterações comportamentais próprias de um estado depressivo (típico ou atípico). Essas alterações no comportamento do aluno podem ser considerados um aviso sobre a necessidade de ajuda e apoio. Ballone, 2008.

Está situação nos remete ao fato de que, está separação pode não gerar nestas crianças estes efeitos danosos e dissociativos, dependendo apenas dos comportamentos destes para com esta criança. Quando ambos procuram explicar a situação, mostrando e dando a segurança de que em qualquer momento estarão ao lado deste filho (a), mantendo-se presentes nas vidas e cotidianos dela, a criança entenderá que não está sozinha neste caminho que para ela é longo e desconhecido. Com certeza as consequências e incidência de problemas comportamentais e de aprendizagem será bem menor que para aquelas que os pais não assumam esta responsabilidade para com seus filhos (as).

Com o que o autor nos fala que a clareza destes pais, usando de argumentos francos, diretos e com a clareza necessária, fará com que a criança entenda a situação em que está inserida e mesmo que não goste, terá o suporte necessário para o devido enfrentamento. Ballone afirma a dificuldade que é, até mesmo para pais em situação de separação, explicarem os fatos com os quais estão envolvidos; “Mas nem sempre os próprios pais sabem muito a esse respeito, tornando a iniciativa dos professores nesse sentido muito mais difícil”. Ballone, 2008.

Em muitos casos de separação conjugal, o desgaste já é tão grande que estes filhos (as) já sofrem as consequências há muito tempo e acabam por aceitarem sem grandes transtornos a separação de seus pais, logicamente, estamos falando de crianças com idades próximas da pré para a adolescência. Para crianças com idades abaixo dos doze (12) anos está ainda será uma situação complexa, de difícil aceitação e com a qual dificilmente terá condições de conviver. “Essas alterações no comportamento do aluno podem ser considerados um aviso sobre a necessidade de ajuda e apoio”. Ballone, 2008.

Algumas crianças consideram a escola como um refúgio dos problemas familiares pois, tanto o ambiente escolar quanto os professores, continuam constantes em sua vida durante esse período de grande reviravolta existencial. Mesmo assim, nem sempre esses alunos aceitarão conversar a respeito das dificuldades que enfrentam em casa (neste caso, a separação). Novamente, serão as alterações em seu desempenho e comportamento que denunciarão a existência de problemas emocionais.

Pois bem, aqui temos a possibilidade com a qual tanto os professores com escola como um todo devem trabalhar. Neste fato temos a possibilidade com a qual a escola e os professores devem trabalhar, a aproximação e entendimento destes alunos, não somente o trabalho “conteudista”, enfadonho e cansativo, mas a busca real, sincera de um horizonte onde a afetividade e o interesse humano, no humano e pela humanização de pessoas ainda em formação. É esta afetividade que pode livrar a educação, aqui entende-se como o elo mais fraco do sistema educacional, a educação pública, onde temos refletido todos os transtornos sociais por que passa o Brasil.  E neste contexto a psicomotricidade tem muito a contribuir com a sua base teórico-prática na afetividade, no interior de cada ser, sua emoção e sentimentos, levando estes alunos a terem de volta o equilíbrio outrora perdidos, mas ainda existentes na mente, coração e corpos, que em si clamam por ajuda adequada, própria e capaz de um auxilio verdadeiros.

 

                    3.2 - Emoção e Comoção nas Salas de Aula. Em Busca de Limites

 

Quem lida com a emoção alheia, dificilmente não acabe por se envolver com elas. É muito improvável que uma professora (or) não acabe por internalizar os problemas vividos por seus alunos, até mesmo porque ao se identificar com as situações emocionais de certos alunos, acabará por viver, internalizar os dilemas destes. Este é um perigo muito sério para os educadores, pois, acabam por somatizarem as mesmas, advindo daí alterações orgânicas que podem acabar em doenças e afastamentos.

Vejamos a reflexão a que chegou o pesquisador e psiquiatra Ballone:

No Brasil, aparentemente a política do ensino público, ensinar parece estar sendo menos importante que manter a criança na escola. A tática de obter resultados da aprovação quase automática ano-ano, faz com que os transtornos emocionais dos alunos, externados através de condutas desviantes, anômalas, rebeldes, indisciplinadas, inconsequentes e toda sorte de atitudes jamais imaginadas há poucas décadas, constituam uma excelente oportunidade para reflexões honestas sobre os limites e as possibilidades do professor e da estrutura escolar.

Pois bem, então já constatamos fatos de suma importância sobre a afetividade professor/aluno. Estes alunos passam por situações difíceis, apresentam complicações de ensino aprendizagem, ou até mesmo impossibilidades que afetam toda a sua vida estudantil. Consequentemente influenciam toda a escola. Mas, outro viés é a equipe de trabalho interdisciplinar da escola, que acaba por reagir de formas das mais variadas possíveis.

Se, infelizmente, as crianças carreiam suas mazelas emocionais para dentro da escola, e se essas mazelas estão sendo lidadas adequadamente ou não, posso dizer por experiência da clínica, que também os professores carreiam suas frustrações, depressões e ansiedades geradas na escola para dentro dos consultórios psiquiátricos, com a desvantagem de não se dispor de tanta literatura especializada a respeito quanto existem sobre a problemática infanto-juvenil. 

O fato mais sério e complicado para se solucionar dentro das escolas na atualidade é a impotência com que a maior parte dos professores acabam por ter diante das imposições de seus alunos, como se estes é que os ensinassem, não o contrário, não querendo dizer e menos ainda que haja um retorno aos métodos conservadores e antigos das escolas do passado, mas que ao não tomarem uma conduta séria, que limite a indisciplina de seus alunos, reeducando-os com amor e afeto, acabam por não se incomodarem com a total disseminação destes comportamentos. Com isto acabam por serem afetados com somatizações das mais variadas e possíveis, além de indiretamente estimularem o mesmo comportamento inadequado por parte de outros alunos.

Na verdade não é um caminho adequado a função educativa, pois impossibilita a efetivação do ensino. Não há condições de aprendizagem adequadas em uma sala onde não há interação, envolvimento, atenção e acima de tudo respeito mútuo.

Este respeito, fundamental para o devido entendimento de cada papel ali existente, professor, aluno. Estes atores jamais poderão trocar de papeis, mesmo na condição de interação, será o professor com sua prática e saber, quem terá, acima de tudo a responsabilidade por rever, estimular e fundamentar o saber com as bases corretas, sem as quais jamais aprenderá e formalizará o que realmente desejasse.

 

4 – A CONSTITUIÇÃO FAMILIAR DE NOSSOS DIAS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

 

Na atualidade e em meio a liberalização social de jovens e crianças ocorrida imediatamente a aprovação do E.C.A (Estatuto da Criança e do Adolescente), onde o tênue arbítrio dos pais deixa quase de existir, deixando um vão impiedoso e cruel para crianças e adolescentes, este fato já vinha em uma crescente desde as décadas de setenta e oitenta (70 – 80), quando os pais e novas famílias já questionavam o modelo de educação familiar de seus pais, na busca por outro modelo, já tinham dado mais liberdade aos seus filhos, mas ainda não de forma ampla e com direitos assegurados por força de Lei, fato que se reverteria com a Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990 que traz inúmeras garantias.

A família a base para todo o desenvolvimento social, a qual propicia aos jovens uma forma digna para chegarem a fase adulta, capacitando-o para se desenvolverem junto à sociedade como pessoas idôneas, tendo assim os seus direitos resguardados. Mas a constituição familiar e as desigualdades sociais permanecem inalteradas. Este fato acaba por “abrir” os olhos dos diversos grupos criminosos para o aproveitamento destes jovens, que a partir de 1990 passaram a serem inimputáveis, mesmo que o Estatuto trouxesse medidas punitivas, o fato desta inimputabilidade coloca aqueles a quem se quis proteger em uma situação de acima da Lei, mesmo que o estatuto traga as medidas socioeducativas, elas não melhoram e não corrigem as desigualdades existentes. Da Silva e Miranda Revista Eletrônica Direito, Justiça e Cidadania – Volume 2 – nº 1 - 2011

A composição destas famílias carentes são um viés histórico de condições sociais desiguais que existem no país desde que se constituiu em uma nação com características próprias. Mesmo com os avanços das duas últimas décadas, ainda existem muitas desigualdades, e estas colocam determinados grupos sociais, comunidades e famílias em condições de vulnerabilidades extremas.

Estas famílias em sua maioria constituídas por cônjuges separados e em real litigio, onde seus filhos quase sempre são expostos as condições desfavoráveis de locais com condições de risco iminentes. Ou em outros casos com seus pais com envolvimento com a criminalidade, de forma direta e dependentes dos ganhos ali obtidos para manterem suas famílias. Quando este pai acaba por ser penalizado com a vida por seus comparsas, está família acaba por ficar ainda mais exposta ao assédio do crime.

Uma família que possua em sua constituição uma desestrutura tal que, permita que o desamparo acabe por atingir os seus filhos, deveria ter do Governo e da sociedade o amparo para ter as suas dificuldades superadas. Mas, ao contrário do que presenciamos ao longo dos últimos tempos, este processo não sofreu uma modificação capaz de ser superado. A composição familiar ainda é feita de forma alheatória, sem um devido planejamento de curto e longo prazos, mas por impulsos somente, expondo todos os seus componentes a um processo de carências das mais variadas.

Não existem campanhas de conscientização de controle de natalidade, de uma gravidez assistida, nem mesmo de um amparo real e eficaz de crianças e adolescentes no país. Os serviços existentes, acabam por servirem somente de um “trampolim para um aprendizado da criminalidade”

Se no país existissem instituições correcionais que realmente cumprissem com sua missão, provavelmente os índices de crimes entre os adolescentes diminuiria. As famílias já não possuíam m ais o controle sobre os seus filhos, e esta situação remonta muito antes dos eventos aqui discutidos. Já na década de mil novecentos e sessenta tais movimentos liberais já começavam a se articular, trazendo junto um conjunto muito robusto de mudanças, muitas das quais a sociedade brasileira ainda não tinha condições de assimilar.

 

                   4.1 Composição Familiar 

 

A composição familiar até o início da década de sessenta era estritamente patriarcal. Onde o marido e pai, era quem decidia e tomava as providencias para a manutenção daquela família. Com a liberalização da mulher para cumprir na sociedade funções que outrora eram feitas somente por homens, este quadro e composição começa a mudar radicalmente, tendo seu ápice no final dos anos setenta.

As mudanças sugerem que a família é um fenômeno que sofre adaptações. Este estudo tem como objetivo analisar as características de diferentes composições familiares, enfocando as famílias nucleares, extensas e monoparentais, para refletir sobre possíveis modificações na experiência emocional infantil.  Conclui-se que a família é fundamental para o desenvolvimento emocional infantil e que uma reorganização adequada frente à nova realidade familiar ocorre através do desenvolvimento de estratégias sólidas de educação e da preservação dos vínculos entre pais e filhos. Kruse, 2009

Como vemos nas palavras da autora citada, a família é vital para uma boa saúde mental de uma criança. O que nos acaba por mostrar o quanto as famílias estão expostas na atualidade, são separações, agressões, desprezo dentre tantas outras questões que afetam diretamente a composição familiar.

Uma criança sem os princípios morais, valores, conduta adequada e com distúrbios dos mais variados, sofrera com carências, problemas de aprendizagem, que podem ser de forma passageira, ou se tornarem constantes em sua vida, acarretando em situações educacionais que a levarão inúmeros insucessos.

Sabemos através de diversas pesquisas já realizadas, que a aprendizagem depende de atenção e interesse para que aqueles que estão passando por um processo de ensino/aprendizagem adquiram o conhecimento necessário para as etapas seguintes. Se já ao iniciarem seus estudos passam por dificuldades, estas serão de difícil correção posterior, mesmo que não inviabilize o aprendizado, este será muito mais difícil de ser adquirido, dependendo de quanto se quer para se constituir como fato na vida desta criança.

As questões de composição e convivência familiares, podem alterar todo o processo de aprendizagem escolar, ou até mesmo inviabilizá-lo. A separação conjugal de seus pais, hoje se constitui no primeiro e mais grave problema escolar. A criança muda seu comportamento, cria um desinteresse, causa uma agressividade exacerbada ou uma retração significativa. São fatos que acabam por desaguarem na escola e no seio das salas de aula. Portanto, será preciso que professores e professoras saibam identificar, além possuírem uma afetividade capaz de amparar estes alunos em suas aflições. É lógico que sua ação será e deverá ser dosada para nunca se exceder ao que é lícito fazer, acima de tudo não se envolvendo em questões que não suas, se atendo somente aos fatos escolares e principalmente de sua sala de aula.

 

CONCLUSÃO

 

As novas composições familiares, as garantias conquistadas ao longo destas últimas três décadas, conferiram muitas garantias as crianças e aos adolescentes, isto é um fato facilmente verificado nas Leis que garantem estes direitos. No entanto, as famílias sofreram muitas interferências, sem que houvesse um amparo em suas dificuldades. Como vemos em várias pesquisas, esta falta de amparo, além de muitas interferências externas não trouxeram os efeitos esperados, menos ainda os ajustes desejados. Estas mudanças vão afetar diretamente as nossas crianças e adolescentes, seu desenvolvimento, biopsicossocial, causando sérios desajustes comportamentais, além de muitos problemas de aprendizagem escolar. É neste sentido que este trabalho de pesquisa visou mostrar a composição familiar, seus problemas, as causas e consequências para a aprendizagem e a escola, apontando sempre para a possibilidade de uma estruturação/reestruturação através da psicomotricidade como uma ciência que possibilita o reequilíbrio do indivíduo de forma afetiva, mostrando que a emoção é parte estruturante do ser humano como um todo.   

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Ballone GJ, Dificuldades de Aprendizagem, in.  PsiqWeb, Internet, disponível em: http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2005

MORAES E RUBIO Revista Eletrônica Saberes da Educação – Volume 3 – nº 1 – 2012

MACHADO, C.; ALMEIDA, L.; GONÇALVES, M. e RAMALHO, V. (Org.) (Outubro de 2006. XI Conferência Internacional Avaliação Psicológica: Formas e contextos

Da Silva e Miranda Revista Eletrônica Direito, Justiça e Cidadania – Volume 2 – nº 1 – 2011

CARDIA, Joyce Aparecida Pires. A IMPORTÂNCIA DA PRESENÇA DO LÚDICO E DA BRINCADEIRA NAS SÉRIES INICIAIS: UM RELATO DE PESQUISA.

Micaroni, N. I. R. CRENITTE, P. A. P. CIASCA, S. M. A Prática Docente Frente à Desatenção dos Alunos no Ensino Fundamental.

DE MORAES, V. L. C. RUBIO, J. de A. S. Cognição e Afeto se Entrelaçam no Processo de Ensino e Aprendizagem. Revista Saberes da educação. FAC São Roque.

MACHADO, C. ALMEIDA, L. GONÇALVES, M. e RAMALHO, V. (Org.) (Outubro de 2006). Avaliação de Dificuldades em Compreensão de Leitura e Escrita. Atas da XI Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Formas e Contextos. Braga: Universidade do Minho/Psiquilíbrios.

WERLY, J. Fernandes. Trabalho de conclusão de curso apresentado a FAMATH – Faculdades Integradas Maria Thereza

 

 


 

 

 

UM OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO. ATUALIDADES, E DIFICULDADES NAS SALAS DE AULA

 

 

 


 

 

        Na contramão ficou a Escola, com seus métodos antigos, com seu sistema tradicional e que não permite realizar mudanças com a rapidez exigida pelos meios tecnológicos. Os meios tecnológicos trazem para as salas de aula um componente dificultador maior que os benefícios iniciais. O uso indiscriminado de aparelhos como: I-pods, mp4, celulares, etc, dentre tantos outros aparelhos eletrônicos, com toda certeza são benéficos, mas nas salas de aula trazem mais malefícios que benefícios, atrapalhando a fixação do aprendizado. Como deve, pois o professor (a) atuar diante destes dilemas? Refletindo continuamente sobre o seu modo de atuar como educador que é, renovando os métodos nos quais exerce a sua função, buscando uma formação continuada. No entanto, ao buscar proceder desta forma verá que outras dificuldades existiram. As questões salariais aparecem aqui como um delimitador muito sério para a reciclagem dos docentes. É, portanto de uma urgência inegável, a necessidade da participação governamental para a solução dos problemas que atingem as classes escolares e as Escolas de uma forma avassaladora.

 

        Precisamos dar soluções para estes dilemas enfrentados por professores e alunos em sala de aula. E para chegarmos a algum resultado temos de melhorar a formação docente e também as condições do ensino de uma forma geral. Visando o fornecimento de reflexões, que sejam capazes de auxiliar na tomada de uma posição por parte dos educadores (as), assim buscamos nestas reflexões mostrar uma parte dos fatores geradores das dificuldades da sala de aula. A sociedade mudou, as pessoas mudaram e os nossos Educandos não são os mesmos de décadas atrás. Existem hoje outras necessidades que precisam fazer parte da Educação escolar. As classes escolares clamam por mudanças. Estas até tem acontecido, no entanto ainda de forma muito lenta, consequentemente, não acompanhando as transformações processadas no tecido social.

 

        Na função educativa temos e devemos buscar ferramentas educacionais que alcancem os sentimentos de nossos educandos. Esta busca se mostrará eficiente em sua função quando o aluno aprender devidamente os conteúdos a ele ministrados. O educador deve ter em seus métodos o afeto necessário à fixação do que pelo próprio é ensinado. Nesses dias, onde o aluno ao entrar em sala de aula, já está querendo sair, pois, acha desnecessário o que a ele é ensinado. Consideram todos os exercícios um enfado e, certamente, gostaria e queria estar em uma lan house jogando seus preferidos vídeo games, trocando mensagens em um MSN, ou em seu Orkut. Na contramão dos fatos atuais encontra-se a escola com seus quadros negros, exercícios que não se mostram parte da vida do educando e de sua realidade. Os educadores, infelizmente, também corroboram para que esta visão, dos seus alunos, se concretize. Ao dissociarem os conteúdos ensinados do dia-a-dia, da prática de vida de cada um dos educandos, faz com que estes não encontrem o verdadeiro significado da Escola em suas vidas, não conseguindo deixar bem claro este significado, logo estes alunos voltarão sua atenção para algo mais ‘atrativo’, as salas de bate papo on line e outros recursos tecnológicos da atualidade. Ao não construir um currículo que contemple a atualidade, com a facilidade trazida junto com a democratização da informática, a ampla divulgação das noticias e a consequente transformação do mundo pelas mesmas, não visualiza as necessidades de um mundo dinâmico o qual muda a todo instante. Ao proceder desta forma torna sua função sem a devida importância para seus alunos. Como tornar a Escola atrativa? A esta pergunta poderemos acrescentar inúmeras respostas.

 

        Informatizar, melhorar a qualidade do corpo docente, acrescentar à sala de aula recursos áudio visuais e multimídia é uma maneira moderna de envolvimento discente. As propostas educacionais normalmente vêm de cima para baixo, em uma ordem totalmente inversa do que seria natural. Sem a participação dos professores, diretores e demais trabalhadores da Escola estas propostas jamais coincidirão com as reais necessidades complexas de alunos e educadores, gerando uma Educação aquém das expectativas de ambos os protagonistas. A história da Educação nos mostra o quanto foi transformada e modificada a Pedagogia ao longo dos últimos séculos. De uma Educação jesuítica, embasada na educação religiosa, repressora, com uma visão claramente elitista, para uma democratização do ensino, passando a ter uma visão universal onde de todos tem o direito a Educação Escolar. Mas, uma Escola onde se obriga educar a todos, sem distinções, ainda em nossos dias é inexistente. O que dizer então do Educador neste quadro?

 

         Logicamente, não houve o devido preparo, a devida formação e qualificação dos quadros dos Trabalhadores e mesmo a formação docente ficou na obrigação de cada um educador se formar. Temos tido ao longo desse tempo, principalmente nas décadas mais recentes uma busca, um incentivo pela qualificação docente, sem, no entanto torná-la uma política de Estado. Hoje toda a formação docente esta a cargo do educador. O Estado nem mesmo tem um plano de valorização dos quadros formados. Hoje não podemos e não devemos ter uma visão romântica de nossas salas de aula. A realidade é outra. E, é bem diferente de épocas passadas. Hoje, as famílias ou são ausentes ou colocam seus filhos na Escola para terem uma Educação escolar e familiar, o que é totalmente errado.

 

        A escola não substitui a família. Este quadro da Escola, do Discente e dos Educadores, já seria o suficiente para termos a necessidade de uma formação mais ampla. No entanto, com as necessidades tecnológicas do trabalho, das patologias advinda de uma vida turbulenta e cheia de muitas responsabilidades, que normalmente acabam por levar a um quadro de stress, consequentemente, a alterações neurológicas sérias. Os Educadores estão expostos a todos estes fatores patogênicos, inerentes a uma função que nos últimos tempos se tornou de risco, necessitando logo, de uma formação que o ampare no trato com este quadro Educacional, os problemas de seus Educandos e as situações familiares por eles vividas. É, pois, necessário buscar na psicologia da Educação, na psicomotricidade, dentre outras existentes, a qualificação para o trabalho com todos estes alunos, seus dilemas e déficits de aprendizagem. Não podemos, nem devemos pensar que esta situação venha a se concretizar. No entanto, a atual situação vivida em nossas salas de aula começa a ganhar contornos insustentáveis, e inimagináveis, onde em vários pontos de nosso país observamos professores e professoras acalentando a ideia de abandonar o magistério.

 

        Outras profissões na sociedade possuem um alto conceito junto à população e ao público em geral. Médicos, advogados e engenheiros todos possuem condições de trabalho bem mais elevadas que os professores, como salas climatizadas com materiais apropriados para a sua profissão, o que está na contramão da educação. Portanto, as condições de trabalho são as mais difíceis possíveis, com salários baixos e atrasados dentre outros contra tempos que contribuem para agravar o quadro de abandono generalizado da Educação em nosso país. O sistema de Ensino particular também não escapa destas problemáticas, porque também tem suas ‘escolas’ e ‘jardins’ sem regularização e quando regularizado, as condições salariais são escandalosas. Portanto, para estas condições e ‘patrões’, acreditam, não existe Educação sem professor.

 

 

 

PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO, DIFICULDADES, ORKUT, IPOD, MP4.

 

 

Jones D’ Arques de Souza.

 

Formado em pedagogia e psicopedagogia institucional e clínica pela FACNEC – Faculdade Cenecista de Itaboraí, RJ. Formando em teologia pela FACOS – Faculdade Cenecista de Osório, RS.

Coordenador do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil em Itaboraí, RJ.

Coordenador Pedagógico na Escola Municipal Padre Thomas Pieters, Tanguá, RJ.

 

 


 

 

AS EMOÇÕES E A PSICOMOTRICIDADE

 


 

         A criança ao nascer sai de um ambiente protegido, para viver em um ambiente que nestes primeiros dias lhe é hostil, frio, alimentar-se por si mesma, são fatos novos em sua breve vida. Na vida intra-uterina o corpo de sua mãe, e o dela vivia em perfeita simbiose, alimento só o que vinha via cordão umbilical, frio, jamais era por ela sentido, pois, a temperatura no útero de sua mãe era exatamente adequada as suas condições de vida.

         Ao perder está simbiose, vem à necessidade de um olhar, um toque, uma carícia, em seus primeiros anos de vida esta relação será de vital importância para suas aquisições intelectuais, psíquicas, e sócio-afetivas. O viver com sua mãe, com seus familiares será de grande importância para um crescimento em equilíbrio. Todos nós em nossos primeiros anos de vida tivemos estas necessidades, os nossos processos afetivo-emocionais com toda certeza, tem no afeto materno-familiar sua base de sustentação.

         Uma criança que cresça em um ambiente de afetividade, correção, e acima de tudo justiça, terá melhores condições de ser equilibrada emocionalmente em sua vida adulta. Segundo as informações de Teresa Cristina Serra Damiano Borghi, divulgado no site da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, a psicomotricidade é de vital importância para não somente na infância, mas, também na velhice, acrescentar melhor qualidade de vida. 

 

Hoje tem uma nova cara, pois passou a ter importância à qualidade de sua vida quando se está na velhice, não só no aspecto financeiro, mas também a preservação de seus potenciais cognitivos, competência social e mobilidade motora compreendendo que estes fatores influenciam sua saúde. (Borghi, SBP - Sociedade Brasileira de Psicomotricidade.)

 

         O estilo de vida da pós-modernidade, com suas necessidades, e uma busca incessante por melhores condições econômicas, tem colocado as gerações do pós-modernismo em uma situação de ‘necessidades extremas’, isto tudo posto, vemos florescer hábitos e costumes que antes eram ignorados e rejeitados. A afetividade familiar, um modo de vida com mais movimento, mais atividades físicas foram colocados de lado. As crianças que antigamente brincavam de rodinha, de queimado, pique esconde dentre outras brincadeiras que exigiam movimento, contato, foram colocados de lado por telas de um videogame, internet, e jogos de computador, que deixam seus jogadores inertes sem o menor movimento, além de consumo de calorias que não serão gastas.

         Esta situação onde o ser está interagindo de forma impessoal, sem o menor contato, sem esforço, tirou de nossos jovens a chance de conviver com as diferenças, com situações de perda, e acima de tudo de aceitar estas perdas. São inegáveis as facilidades trazidas com a computação, com os apetrechos modernos, que facilitaram e muito a nossa vida, e as relações humanas, só há de se ressaltar os danos da não preparação para tal advento, e os efeitos negativos sanados. Vemos hoje que, esta geração (entre 10 e 25 anos) está reagindo de uma forma bem atípica as carências trazidas por tais tecnologias, mesmo as situações que envolviam o bulling, antigamente eram resolvidas de uma forma mais equilibrada que hoje, o contato pessoa a pessoa ajudava a se dissipar qualquer eventual retaliação violenta. Segundo os profissionais da saúde, um dos principais fatores para uma boa saúde mental está o respeito, o cuidado por si mesmo, pelos outros e pelo planeta, além de ter doses elevadas de amor pela natureza (incluindo aqui os animais e a vegetação). O cuidar é um ato consciente, aprendido no dia-a-dia e no convívio junto com outras pessoas com a mesma finalidade, e nestes atos estão os principais geradores de prazer e contentamento que o mundo conhece; portanto, a forma de educar, de conviver e viver influencia de forma direta, total e definitiva o sujeito. O que vemos com a mudança no seio das famílias, o isolamento proporcionado pela tecnologia, à falta de limites e valores entre os jovens, é que a sociedade está convivendo com situações claras de falta de afetividade, de carinho e de amor.

 

Ao passo em que a tecnologia propicia uma ligação automática com inúmeros sujeitos (Internet), a relação que ali se estabelece é um engodo, é fictícia, pois continuamos isolados em nossas individualidades, conectados a cabos e micro-chipes, porém ainda solitários. Esquecemos-nos do prazer existente no toque, Erica Gomes Pontes.

 

         As questões psicomotoras estão intrinsecamente relacionadas à afetividade do sujeito, um ser que em sua infância tenha tido em sua criação o carinho, a afetividade de seus entes queridos, crescerá sabendo de sua importância como ser humano que é, de suas responsabilidades como ser social, e que vive em uma sociedade, se portara com respeito aos seres viventes, as várias formas de vida existentes, e principalmente ao ser humano como seu igual. A “relação entre o homem e o seu corpo, considera não só aspectos psicomotores, mas os aspectos cognitivos e sócio-afetivos que constituem o sujeito”, Amanda Cabral Goretti (CEPAGIA-Centro de estudo pesquisa e atendimento global da infância e adolescência).

         É neste ponto em que quero fazer um breve comentário sobre o trágico desfecho do caso Eloá, observando as situações descritas pelos órgãos de imprensa no decorrer, e no pós seqüestro. Vimos ao longo do caso à instabilidade do seqüestrador - cabe aqui comentar que no Brasil ainda é muito comum casos, apesar de já estar bem reduzido, de crimes passionais, por ciúme, ou traição - que não se conformando com a separação de sua namorada Eloá, ameaçou-a por muitas vezes devido ao fim do namoro, culminando com todo o desfecho já de todos conhecido pelas reportagens jornalísticas.

         Nesta situação fica bem evidente a falta de um lar onde, a questão certo-errado estivesse bem clara, e trabalhadas. Também a afetividade foi pobre, pois, demonstrou este jovem ter sérios distúrbios evidenciados com a perda. “Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo” (GORETTI, CEPAGIA-Centro de estudo pesquisa e atendimento global da infância e adolescência). Portanto, neste caso, como em tantos outros de nossos dias, vemos a falta do toque, do contato, e da afetividade influenciando de forma efetiva o comportamento do sujeito, de suas ações, e enrijecendo o ser ao ponto de torná-lo capaz de atitudes até aquele momento inconcebíveis, e impensadas. É com estas relações que todos nós nos tornamos mais humanos, aprendendo a conviver com as situações de perda, mas, para que estas ocorram é preciso se estabelecer os limites adequados ao desenvolvimento de uma personalidade emocionalmente equilibrada.

         Juntando tais fatos as carências de nossas salas de aula, teremos que, de forma específica, e intransigente as nossas escolas e suas salas de aula, e de forma mais abrangente o nosso sistema de educação não tem fornecido meios, e menos ainda métodos que levem o sistema educacional brasileiro a suprir as carências das nossas famílias, ‘salvando’ nossos jovens da rigidez corporal, tirando-os de situações onde muitos ficam tempo demais parados, seus corpos inertes clamam por socorro, deixando suas mentes expostas ao descalábrio infame da violência.

         No caso específico de Eloá, temos vários fatos relacionados à área psicológica, mas, o que nos interessa neste momento é claramente o fato do desequilíbrio do seqüestrador. Isto ocorre devido a uma serie de fatores psicossomáticos, e patogênicos. Lares onde a criança tem bom convívio, têm limites bem definidos, vive em harmonia com os componentes de sua família, e é por todas respeitada e querida, crescerá de forma equilibrada, e com toda certeza demonstrará este equilíbrio no seu dia-a-dia, em suas relações sociais, e intimas, aceitará os bons valores sociais e a eles aderirá com empenho, buscará o seu bem estar, métodos de vida saudáveis. A sociedade Ocidental deve refletir bem o seu modo de vida, pessoal e em sociedade, para que tais eventos ao menos diminuam.

         A psicomotricidade tem postulado o seu potencial educador, e corretor, não só para a fase da infância, mas também para os adultos e para a terceira idade. Vemos nestes dias onde a micro-informática dominou todas as áreas de trabalho e relacionamentos humanos, tornando tudo mais rápido, e impessoal, que estas carências de ‘contato’, de olhar nos olhos um do outro, de tocar as mãos de quem amamos, ou somos amigos tem afetado o comportamento, as atitudes de cada um de nós. E neste contexto, atitudes extremas como estas de Santo André, têm-se multiplicado de forma assustadora. Estamos com nossos corpos enrijecidos de tal forma que mesmo pessoas que antes tinham atividades baseadas no movimento, hoje estão presas á salas fechadas, e não somente as salas estão fechadas, o EU interior se fechou, se proibiu vivenciar experiências corporais. Acho que esta frase de Érica Gomes Pontes resume bem tudo o que é a psicomotricidade, e tudo o que pode ser para todos nos dias atuais, “é tempo de redescobrir um corpo de possibilidades e abandonar limites impostos por tabus e ideologias que nada mais acrescentam, além de sintomas, dor e sofrimento psíquico”.

         É exatamente o que vemos nestes últimos dias acontecer, pessoas criadas de forma ‘reprodutora’, e não de uma forma construtiva, seres humanos ‘acabados’ e ‘concluídos’ fora de tempo, mal finalizados em seu potencial de realizações, sem o devido diálogo, e carinhos necessários a sua sobrevivência, incapazes de discernir entre realidade, e o não real, incapazes de pensar na felicidade alheia, e de si mesma. Mal resolvemos grandes tabus do passado recente, e já criamos outros maiores. Que possamos refletir com seriedade, e sinceridade sobre os fatos educacionais e sociais de nossos dias, e vermos que somos seres humanos, temos de buscar preservar o nosso lar, o planeta terra e sua diversidade, mas, principalmente vermos a necessidade de preservação de nossos jovens, como gerações do futuro, equacionando de forma satisfatória seus dilemas, tornando-os capazes de decisões corretas, mesmo diante de fatos como este de Santo André, em que a vida foi o que menos teve importância, quando deveria ser preservada de forma intransigente.

         Esta situação paradoxal, tem de ser resolvida o mais breve possível. Como educador vejo a psicomotricidade como excelente ferramenta para auxiliar nos processos de ensino-aprendizagem, de transformação de paradigmas existentes, de reeducação corpórea, fazendo o ser a redescobrir seu corpo, conseqüentemente o EU interior suprimido no dia-a-dia, nas relações da modernidade. Promovendo o retorno aos processos valorosos do abraço, do beijo, do toque, da caricia, enfim, da libertação do aparente, do imposto para ser aceito. Nossos corpos gritam, quando paramos e damos ouvido aos seus clamores? Ouçamos seus gritos de socorro, e acima de tudo, que possamos ser portadores de capacidade para atendermos os gritos de nossos semelhantes.

         A construção social desde primórdios da Humanidade sempre foi à base de cooperação mútua entre os seus integrantes, do auxilio, mesmo que em momentos específicos os interesses pessoais fossem levados mais em consideração, às atividades onde a cooperação era necessária já estavam bem definidas.

          Estas formas de atuação mantiveram o tecido social. E a está época também já tinham avançado muito as relações familiares, onde a afetividade por suas ‘crias’, os cuidados, começavam a construir estes laços que tanta importância tem na vida de cada ser humano, sem o carinho de uma mãe, sem a justiça e comportamento definido de um pai presente, a criança não difere muito de um animalzinho, a não ser por sua inteligência e aptidões técnicas, é os laços familiares, o seu ambiente sadio, ou não, que definiram a estrutura sócio-emocional do ser em construção, passando depois de adulto a ser agregador, ou desagregador social. Nestas situações estão com toda certeza envolvidas as questões motoras, e psicomotoras de cada um.

         Vemos estes fatos no construto social de hoje, onde cada sujeito está exposto aos processos de uma desagregação efetiva. E, é neste ponto que a atualidade tem atingido de forma direta nas ações do individuo, transformando sua vida e seu futuro. Quando vemos fatos tristes como o que ocorreu em Santo André, onde uma jovem perdeu a vida (caso Eloá), e outra teve a sua vida completamente transformada, por relações afetivas mal construídas.